domingo, 9 de setembro de 2007

RECOMENDO - 'THE PILLOWMAN" até dia 16 SET no Teatro Nacional São João





"O foco de luz começa por incidir unicamente nos cadernos pretos em cima da mesa, os contos infantis grotescos à volta dos quais se enleia a história da peça The Pillowman (O Homem Almofada), do dramaturgo britânico Martin McDonagh, e que Tiago Guedes, realizador do filme Coisa Ruim.

No contexto de um regime totalitário, Katurian, o autor dos contos, interpretado por Gonçalo Waddington, é submetido a um interrogatório acerca das semelhanças entre as suas histórias e os detalhes horripilantes de vários homicídios infantis na sua cidade.

"Não é um crime uma pessoa contar uma história", assegura Katurian, nervoso e perdido no jogo de insinuações e ameaças dos seus interrogadores, desempenhados por João Pedro Vaz e Albano Jerónimo.

A troca de argumentos entre as personagens convida, em vários momentos, à reflexão sobre a responsabilidade da arte perante a realidade, não deixando, ao mesmo tempo, de alimentar também a suspeita a respeito da aparente ingenuidade de Pillowman e da sua personagem central.

Gonçalo Waddington considera Katurian "uma personagem muito estranha", mas "fascinante pela forma como divide o espectador". "É um puzzle sem solução", como sugere o próprio Katurian, em relação ao significado dos seus contos, que dão à peça um tom macabro. O título da peça provém de uma das histórias do escritor, sobre um simpático personagem feito de almofadas que encoraja crianças a suicidarem-se para não terem de enfrentar vidas terríveis.

"Gosta-se mas incomoda, incomoda muito, a vários níveis", diz Tiago Guedes da peça, a sua estreia na encenação teatral. "É extraordinária a forma como mistura o horror e o belo, porque as histórias do Katurian são horríveis mas encerram uma moral peculiar", diz. João Pedro Vaz, por seu lado, considera a peça "deliciosamente complicada" por frustrar uma explicação imediata. "O autor desenha a linha entre ficção e realidade para logo depois a esbater", observa.

O texto de Martin McDonagh, que aos 36 anos já é um dos nomes mais promissores da dramaturgia britânica, e em relação a quem é feito o paralelo com o realizador Quentin Tarantino, chegou a Tiago Guedes pelas mãos de Marco D'Almeida, no papel de Michal, o irmão deficiente mental de Katurian. "Achei que seria interessante de encenar, mas preferi vivê-lo como actor", contou o actor. "Nunca representei nada parecido e por isso aceitei o desafio."
Tiago Guedes, que em parceria com Frederico Serra realizou Coisa Ruim, o filme português mais visto no primeiro semestre deste ano, considera que a linguagem do teatro não é muito diferente da linguagem do cinema. A principal diferença reside no facto de "ganhar uma vida própria, sobre a qual deixas de ter controlo, para pertencer aos actores", explica.

Ao mesmo tempo que diz não ter "aspirações de espécie alguma" no teatro, garante que "as minhas expectativas já estão cumpridas: conseguir montar a peça e atingir um nível de trabalho com os actores". Na sua opinião, Pillowman "é uma comédia negra, que assume a forma de drama".

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